Kriptonita

O que é isto que sinto? Sentimento estranho que me acomete nas horas mais sombrias dos meus dias, misto de saudosismo, mágoa e rancor. Quem melhor do que eu mesmo para defini-lo. E dói. Ainda dói. Quando penso que estou me libertando, olho para a cama vazia que um dia foi nosso refúgio secreto e vêm-me as lágrimas. Frias. Cálidas. Ainda me lembro de nossos últimos dias. Os sorrisos falsos, as carícias ardentes, as mentiras estampadas. Perguntei, mas não houve resposta. Questionamentos me norteavam e alvejavam meu coração como flechas afiadas. Não me lembro de muita coisa depois. Acho que um bom scotch é mesmo um poderoso remédio para a memória; às avessas. Acordei ainda débil e não te encontrei. O bilhete em papel cor-de-rosa debaixo do abajur me fez voltar à consciência. Mas que merda, já me arrependo de ter gastado meus trocados com aquele caderno estúpido que lhe dei. “Oh não, esqueci a carteira em casa, amor!”. Ladra, desalmada, inconsequente! Como uma bandida, veio e me iludiu à beira do abismo. Ainda não fui capaz de entender o que houve ao certo, vai além de minhas capacidades intelectuais. Só o que entendo agora é o saudosismo, a mágoa, o rancor. Drenando meus fluidos viscerais. Afastando-me do que eu era. Transformando-me. Parasitando meu íntimo.