quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Lupus

O velho lobo andava solitário por entre as árvores. Seu corpo trazia cicatrizes recentes que ainda lhe causavam alguma dor. As batalhas que travara o fizeram endurecer-se, tornar-se mais pensativo, mais avaliador e, por que não, mais manipulador. O velho lobo andava sem rumo. Nada procurava. Nada esperava. Não mais. Não procurava possíveis presas nem matilhas adotivas. Sabia que os tempos haviam mudado. Tudo aquilo que outrora erguia-se rumo aos céus, de modo viçoso e imponente, agora jazia distante e perdido.
Jovem velho lobo. Quimera de sentimentos. Buscava conforto com os de outras espécies. Dormia em tocas de raposas. Compartilhava da comida dos ursos. Nunca achara sua verdadeira face. No emaranhado do destino encontrava-se preso. Odiava estar preso. Queria ser livre. Queria correr pelas planícies junto dos seus. Caçar como um verdadeiro guerreiro. Sentir-se parte do bando.
O lobo deitou-se e mirou as estrelas. Quem sabe estas guiem seu caminho.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Luzes, câmera, ação!

Existe coisa mais engraçada que essa nossa vida? E quando digo "engraçada", não me refiro só ao sentido de fazer rir. Estou falando das pequenas coincidências que nos permeiam e, nem sempre notadas, agem sorrateiras enquanto seguimos nossa rotina. É, essa nossa vida é mesmo engraçada. A ponto de te fazer rir mais numa conversa despretenciosa com alguém novo do que com velhos amigos. Curioso como se pode descobrir tantas afinidades com alguém que não se conhece - ou pelo menos que não se conhecia ontem.
Vida poética, essa. Já vem com trilha sonora incluída, erros de gravação e cenas extras deletadas. Aliás, vou te dizer que o que veio primeiro nessa história foi a trilha sonora, ao contrário de qualquer outra produção consagrada. Mas quem precisa de super efeitos, não é mesmo? O barato é ser independente, blockbuster sem pretenções de Oscar, daqueles singelos e tocantes que te fazem querer mais. E você volta ao cinema, quer ver tudo de novo, na esperança de que haja continuação. E se a inspiração faltar, sobra bom humor, boa vontade... eu já falei bom humor?
Vou te falar, se eu tivesse que escolher um gênero pra esse filme, seria mesmo comédia. Mas comédia romântica, que ninguém é de ferro. Daquelas bem bobas, em que os protagonistas se atrapalham, caem de cara no bolo, escorregam na lama, mas no final se encontram e "vivem altas confusões com uma galerinha do barulho". Acho que assim deve dar mais certo, faz mais sucesso com o grande público. Então que venham as aventuras e os desencontros confusos, porque este filme está só começando e ninguém sabe como vai acabar.

terça-feira, 22 de março de 2011

Conto nº 1

Era a mesma história, repetida todos os dias. Eu saía de casa, sempre na mesma hora, e andava até o ponto de ônibus. Subia no coletivo com o motorista habitual e, sem mudança na rotina, lá estava ela. Eu sempre a via naquele trajeto matutino, sempre. Na maioria das vezes lia um livro, com fones nos ouvidos. Algumas vezes percebia meus olhares aflitos, quase que agarrando-se àquela linda visão que era seu rosto. Fingia que não percebia, mas eu sabia que era notado. Seu rosto corava-se enquanto a cabeça inclinada para baixo deixava penderem os cachos dourados por sobre sua testa. Saltávamos no mesmo ponto e eu a seguia até seu prédio, como que lá a levasse e lhe deixasse, desejando um bom dia. Eu, então, continuava andando até minha sala e me inundava com as tarefas diárias. E assim foi durante algum tempo.
Certo dia, porém, algo havia mudado. Não sabia ao certo o que era, mas sentia que isso traria consequências. Subi no ônibus e a encontrei, radiante como sempre. Nossos olhares se encontraram mais uma vez, mas havia algo novo, algo que não conseguia identificar. Pela primeira vez sentei-me ao seu lado, já que era a única poltrona vaga. Escapando dos fones, reconheci aquela música, era minha banda preferida. Arrisquei um comentário. "Música legal essa aí". Ela me encarou, com um certo olhar surpreso, mas de certa forma me parecendo aliviado. Continuei. "Sabe, essa é a minha banda preferida". Nunca ouvira antes sua voz, mas aquele dia era diferente. "Sério? É a minha também!".
Então eu percebi o que havia mudado.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Inércia

Estou cansado. Não aguento mais essas repetições incessantes que permeiam nossas vidas. Todos os dias, tudo igual. A rotina me mata lentamente. Os mesmos programas, as mesmas roupas, o mesmo caminho, o mesmo tédio. Às vezes me sinto como se o mundo em que vivo fosse pequeno de mais pra mim, desinteressante de mais. Não quero mais ter as mesmas conversas e brigar pelos mesmos motivos. Quero sorrir por coisas novas. Meu espírito anseia por movimento e, consequentemente, crescimento. Estagnação é uma palavra que não faz parte do meu vocabulário, e nem quero que faça. Tudo que peço é um pouco mais de aventura.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

O caso

Peguei meu violão e cantei uma canção
Pra lembrar de você
Pra nunca te esquecer.
Sonhei que voava
E você ao meu lado sorria, me amava.
Esqueça os problemas e os tropeços
A vida é feita de recomeços.
Não vale a pena chorar agora
Abre a porta, to te esperando aqui fora.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Mensagem pra você

Oi. Que bom que você veio, queria mesmo falar contigo um pouco. Sabe, de uns dias pra cá eu tenho parado pra pensar na nossa relação. O incrível é que eu não me lembro de ter feito isso outras vezes. Talvez eu seja mesmo assim, talvez só consiga refletir sobre algo de que sinto falta no momento e, por isso mesmo, não consigo tirar da cabeça até que seja obrigado a analisar com mais calma os motivos daquilo flutuar ao meu redor nos momentos mais contrários. Eu to enrolando, né... Desculpa. Logo eu, sempre tão direto e resumido. Vou resumir o assunto pra você, então. Eu sinto sua falta. Muito. E por mais que você diga que nada chegou ao fim, e mesmo que eu saiba disso, eu não consigo evitar. Eu quero te ver de novo todos os dias. Quero ficar de saco cheio da sua cara por um dia e te abraçar como se não te visse há anos no dia seguinte. Quero matar minhas saudades de você com um simples olhar para o lado. As coisas não são mais assim agora. Eu não gosto muito de mudanças, você sabe. Se pudesse, deixaria tudo sempre do mesmo jeito. Não precisa dizer, eu sei... Faz parte do nosso crescimento e tudo o mais, mas bem que poderia ser mais fácil.
To me lembrando dos momentos que passamos juntos. Foram mesmo anos maravilhosos, não é mesmo? Nós aprendemos muito um com o outro nesse tempo. Brincamos muito, brigamos de vez em quando, mas no final o balanço é positivo, não poderia ser diferente. Por isso eu digo que é difícil! Nós ficamos ligados por muito tempo e de uma maneira muito forte, não é de uma hora pra outra que eu vou me acostumar à distância. Dia após dia a gente vai levando, vai se concentrando um pouco mais em si mesmo e consegue motivação pra continuar, mas também não é algo assim rotineiro como trocar de roupa.
Bom, mas eu não vou me deixar abater. Afinal, a gente ainda pode se encontrar pra matar a saudade, relembrar as histórias antigas, escrever novos capítulos. O que nós temos não pode ser destruído por qualquer obstáculo que surja a nossa frente. E eu espero que nada mude isso. Hoje eu posso dizer que sou muito feliz por ter tido a sorte de te conhecer e compartilhar tanto com você. E essa felicidade é uma estrela que não se apaga, que continua sempre viva dentro de mim. Eu te amo!

Um post dedicado a todos aqueles que, de quatro anos pra cá, tornaram meus dias mais felizes e não me deixaram enlouquecer (ou será que enlouquecemos juntos?). Mais do que amigos, nos tornamos uma família.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Química analítica educativa

Hoje venho aqui para mostrar-lhes um texto um pouco diferente dos que faço normalmente. Como muitos devem saber, comecei mais uma fase em minha vida muito recentemente, A.K.A. entrei na faculdade. Acontece que lá fui eu ter uma aula em que me mandaram fazer um resumo de um texto de Sociologia. Acontece que eu também gosto desse assunto e acho que o resultado ficou interessante, então vou colocá-lo aqui. Aos interessados em ler o tal texto e ter uma ideia mais profunda sobre o assunto que vou expor, o nome é "Educação e luta de classes" de Aníbal Ponce. Eis o texto então.

"A Educação, como a temos nos dia de hoje é, claramente, uma compartimentalização de conhecimentos vinculada às transformações ocorridas na sociedade, desde seus primórdios. É notório este pensamento, baseando-se no fato de que não havia instituições de ensino nas sociedades primitivas, sendo o indivíduo educado pelo meio e para o meio, através da participação nas atividades diárias da comunidade. Obviamente, sendo estes grupos sociais dotados de características igualitárias para todos os seus constituintes, cada indivíduo era capaz de absorver o mesmo conhecimento que seus antepassados transmitiam inconscientemente e que seus contemporâneos também assimilavam. Em outras palavras, por não haver diferenciação social, não havia também uma diferenciação de conhecimento a ser introjetado.
Com o passar do tempo e as decorrentes mudanças nas estruturas sociais, passaram a existir subgrupos dentro de cada comunidade, unidos entre si por laços de servidão e obediência. Como agora os indivíduos de uma mesma sociedade não viviam todos sob os mesmos preceitos de igualdade, surgiu a necessidade de um ensino diferenciado para cada um destes núcleos sociais distintos. Sendo que o conhecimento maior circulava apenas nas castas mais altas, não podendo ser transmitido à força servil, que permanecia ignorante e condicionada a desempenhar todo o trabalho braçal da comunidade. A Educação começou a se tornar, então, uma arma para a dominação dos menos instruídos.
O surgimento do ensino com grande rigidez, seguido do aparecimento de escolas secretas, reforçou ainda mais este caráter instransponível do saber para as classes mais baixas. O indivíduo era submetido a duras provas antes de receber qualquer instrução, a fim de selecioná-lo de inculcá-lo com o respeito às normas. Este conhecimento nunca poderia ser transmitido indiscriminadamente.
Todos estes desdobramentos culminaram, enfim, na criação do Estado. Estando oficializadas todas as relações de poder existentes, decorrentes de mudanças consentidas nas comunidades primitivas e que marcaram profundamente todo o desenvolvimento das sociedades até o modelo que conhecemos hoje."